Falar com o
dedo no ar
Para falar temos de pôr o dedo no ar.
Se falarmos todos ao mesmo tempo fica muita confusão e não nos entendem.
Má
comunicação.
(André)
Crianças e adultos já incorporaram a ideia de que têm direito a falar, embora isso se deva processar com ordem, para que
seja perceptível, como elas mesmo dizem.
Esta constatação é um progresso no que respeita aos direitos de
comunicação das crianças, porque na escola já houve um tempo em que as crianças
tinham apenas o direito de ouvir.
O direito a falar é encarado com naturalidade por toda a gente. É um
direito reconhecido e valorizado.
O que devemos defender é que brincar é um
direito da criança tão fundamental como o direito a falar, não necessariamente no tempo lectivo, mas no tempo
pós-lectivo, no tempo livre. Um tempo em que frequentemente se obrigam as crianças a fazer
actividades em tudo semelhantes às do tempo lectivo (pela metodologia que se
usa, por não as envolvermos na organização e programação, por serem demasiado
orientadas, sem deixar para a criança a hipótese de explorar ....
O que eu de facto gostaria de ver era uma criança a levantar o dedo
pedindo para brincar, e que isso fosse reconhecido por ela e pelos adultos, que
com ela convivem, como um direito tão natural e tão irrenunciável como o
direito a falar, a comer e a ser bem tratado.
Há tempo para tudo e há todas as possibilidades que quisermos mas, neste
momento, o ato de brincar não é reconhecido como direito fundamental, porque muitas pessoas têm uma informação muito vaga, limitada e pouco precisa do que
significa brincar.
O mesmo sucede, às vezes, com o jogo, que é entendido somente como
exercício físico ou desporto, interessante para a saúde ou para o
desenvolvimento motor, ignorando o seu potencial como forma inegável de ligação
das crianças ao mundo.
Brincar, para a criança, é viver e é tão importante e tão fundamental
como qualquer outro dos direitos que consideramos fundamentais e que estão
consagrados na Convenção dos Direitos da Criança.
Na verdade, não dar tempo à criança para brincar, não reconhecer esse
direito no seu tempo livre, é uma violência tão grave e punível, como não dar
de comer ou maltratar fisicamente. Constitui além dessa violência, uma falta de
percepção do que significa brincar e da forma como as crianças fazem a leitura
da realidade social. As crianças aprendem pela experiência, à medida que vão
interagindo com o seu grupo de pares e com os adultos e à medida que vão
vivenciando diferentes situações.
Falar e brincar com o dedo no ar!!
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