segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ser criança não é fácil.

As crianças não são um grupo homogéneo. Cada criança é um ser concreto, um ser social bem identificado, pertence a uma classe social específica, a um género, e integra um grupo geracional, o da infância . E existem tantas infâncias quantas crianças. O facto de falarmos de crianças no sentido lato (crianças em idade escolar), como uma unidade social, como um grupo constituído, com interesses comuns, e de referirmos esses interesses comuns como representativos da idade definida biologicamente, constitui uma evidente manipulação.
Muitas vezes, as crianças não sentem pertencer nem ao mundo dos adultos nem das crianças. São adultos para umas coisas e crianças para outras, como elas próprias dizem, ao referir que não são compreendidas pelos professores ou pelos pais quando estes lhes impõem um modo de estar.
- Ser criança não é fácil.
Então porquê?
- Não nos compreendem.... às vezes quando queremos alguma coisa não nos deixam... a nossa mãe não nos deixa sair porque nós somos pequenos e ela acha que nos pode acontecer alguma coisa..... às vezes o meu irmão porta-se mal e mete as culpas para mim... eu digo que não sou eu, mas a minha mãe mete as culpas para mim... sou mais velha ... e pronto... tenho sempre a culpa.... mesmo que não tenha... já sei... já estou habituada...
- Na escola é igual, tenho sempre a culpa... Mas às vezes tenho a culpa porque sou mais nova....
Como assim?

- ( ...) é assim ...sou sempre eu...
- Então como é isso? Sei lá... às vezes tenho culpa porque sou a mais nova e outras porque sou a mais velha que o meu irmão....


Então tu achas que os adultos não compreendem o que as crianças querem?
- Não ... às vezes não compreendem ....


Muitas crianças se “queixam” de situações como esta, e que são, sobretudo, sinal da forma aleatória com que às vezes as tratamos, ou porque estamos cansados ou porque estamos ocupados com trabalho ou outras actividades.

Será que, nós, os adultos não compreendemos as crianças ?



Araújo, Maria José (2009) Crianças Ocupadas. Lisboa : Prime Books

A autoridade não se impõe, conquista-se

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