quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Escolarização em debate: rankings e escola pública


O debate público acerca da educação tem marcado posição no espaço público da comunicação social justamente através da interpelação do papel da Escola. No contexto desse debate afirma-se o pressuposto de que o que se entende por educação se confina aos processos de escolarização e que, por outro lado, há uma verdade única e absoluta sobre o projeto de escola que é "melhor para todos".
Mas a educação compreende muito mais processos e experiências que aquelas que são vividas na escola e durante a escolarização. Adicionalmente, e contrariando qualquer ideia de homogeneidade no que concerne à oferta escolar, não há uma escola, isto é, um percurso escolar uniformizado e homogéneo, padronizado, mas antes muitas "escolas" e, por conseguinte, uma enorme diversidade de projetos e de protagonistas que produzem e se vêem continuamente confrontados com discursos, tantas vezes difusos, em que se entrecruzam conceitos, vontades, sentimentos e projetos de vida. 
Falar de escola (pública, universal), em nome de todos, implica atender à grande pluralidade dos espaços sociais e das variações culturais inerentes, observando-os nas suas específicas articulações com dimensões sociais, culturais e geográficas mais amplas. Pressupõe analisar as práticas sociais e as representações que professores, pais e alunos têm dos locais que frequentam, tendo em conta as condições de produção cultural dessas representações e práticas. 
O que habitualmente se designa, simplificadamente, por escola é, na verdade, uma entidade abstrata, mas uma entidade abstrata que continua a mobilizar expectativas coincidentes para muitas famílias, como a da esperança de uma vida melhor, não obstante as formações que disponibiliza já não garantirem mobilidade social e/ ou emprego. 

Assim, os olhares externos que incidem sobre o meio escolar têm de pautar-se por perspetivas e procedimentos éticos que não ponham em causa dimensões essenciais da vida interna e privada da instituição, que não ponham em causa a vida das pessoas (com ideias feitas e comentários descontextualizados), mas que constituam uma mais-valia e uma possibilidade de ajudar a inventar o quotidiano. 

Porque vão as crianças para a escola?
Para aprender colaborativamente, trocar informação, aprender o que muitos pais e encarregados de educação não sabem, não podem e não tem possibilidade de ensinar ou fazer aprender.
Vão à escola que é a organização que foi criada para dar oportunidades a todos de aprender,  aprender com outras crianças e adultos que se formaram para isso.

Comparar escola e resultados escolares (classificações), e justificar as classificações com os percursos e dificuldades dos pais e encarregados de educação é não compreender o papel da escola publica. Seguramente as crianças e jovens não vão para a escola para ouvirem dizer publicamente que não tem sucesso porque as suas famílias não as ensinam! Porque na verdade, é justamente porque as famílias não tem as competências, os meios, as possibilidades de ensinar que a escola foi criada.
Claro que o ideal é que neste processo de aprendizagem haja colaboração entre todos os agentes educativos (pais, professores, encarregados de educação etc) que juntamente com os alunos ajudem a pensar a melhor maneira de todos cumprirem o seu papel. E, sobretudo que a escola possa ajudar muitas crianças (pessoas) a ter uma vida melhor. 

Melhor porquê?
Porque  mais conhecimento e mais formação permite escolher a vida em vez de ser por ela escolhido/a.

Dizer que os alunos/as não tem sucesso escolar porque os pais/EE são oriundos de classes sociais desfavorecidas e não trabalham conteúdos escolares em casa, é dizer que a escola foi criada para alunos cujos pais/EE são oriundos de classes sociais favorecidas?

Não me parece que o possamos fazer.

Então estará na altura de arranjar outra explicação para a dificuldade de conseguir que todas as crianças e jovens tenham sucesso escolar. Porque dizer que as crianças que vem de meios sócio-económicos desfavorecidos não tem sucesso na escola porque as famílias não as educam e não tratam de fazer o seu papel é não compreender a razão para que foi criada esta fantástica organização que é: a escola!!

E, é também dizer que na(s) escola(s) os diferentes agentes educativos não sabem fazer o seu papel. E, isso também não é verdade. Porque todos os dias todos nós, professores trabalhamos imenso para que os alunos compreendam o beneficio que é ter uma instituição que se preocupa com o seu percurso escolar e de vida!

E então como se faz?
Fazendo!!

A autoridade não se impõe, conquista-se

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