1 de Junho Dia Mundial da Criança
UMA CRIANÇA QUE BRINCA
Poderá parecer exagerado pensar que pelo facto
de vermos a criança como um adulto a vir tenhamos de aceitar também que ela não
brinca. Parece, na verdade, que podemos sempre ver a criança como um ser duplo
que em parte se desenvolve projectando-se dessa maneira no futuro, e em parte
vive plenamente o seu tempo, o tempo de crianças que lhe é dado. Não tendo ela
consciência de viver para o futuro, a coincidência com o seu tempo actual, o sentir-se
a viver no presente, não lhe está vedado. Talvez seja assim. De facto porque
haveria a criança de pensar cada um dos seus gestos como irreal, quase
fantasmático, ilusório, algo que não é o que parece?!... Que a criança vive o
seu presente, no seu presente, não parece difícil de aceitar. É no lado do
adulto que o problema existe. Não apenas porque, muito comesinhamente, ele
pense sacrificar o mais que puder o presente da criança ao seu futuro, nem
apenas porque , cheio da sua certeza de especialista ou de instruído pelos
especialistas tente impor à criança um presente falsificado (espaços,
situações, brinquedos, jogos...) concebidos para beneficiar o desenvolvimento
da criança, e por conseguinte não concebidos pela própria criança. Mas porque
tudo isto revela a sua incapacidade de ver a criança, de sequer ver a criança.
Poderá aceitar que ela tem um presente, mas não lhe reconhece qualquer valor. O
presente da criança é uma excrescência a ignorar, passatempo ou entretenimento
sem importância, ou, preferivelmente a manipular de modo a que nem tudo nele
seja em pura perda. Ora um presente assim pensado é um presente não v isto, não
olhado. Olhando não ve uma criança que brinca, a que assume estar toda no seu
presente, mas um futuro adulto (...)
Vitor Martins
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