Na
paragem do metro, em General Torres, duas crianças conversavam sobre as compras
para a escola. Conheciam toda a colorida panóplia que o mercado lhes dedica,
atento aos seus clientes mais novos. Exibindo o seu trolley da
"Violeta", uma explicava: comprei com a
minha mãe...
havia muitas mas eu gostava
desta; também
vais comprar?
Perante
o meu sorriso, a mãe explicou: não a larga desde que a
comprámos, anda
a passear a "Violeta" há dois dias! Só lhe falta dormir com ela.
Uma mochila ou um trolley não é só para colocar
livros e cadernos, é uma escolha que espelha o entusiasmo que as crianças têm quando vão para a escola. Na entrada no
Ensino Básico a criança não tem garantida a
aceitação a priori, tem de revelar competências para a
conseguir; tem de se adaptar a alterações
significativas das rotinas do dia-a-dia, sujeita a uma autonomia obrigatória
para se poder
desenvolver num ambiente diferente.
Esta
dificuldade pode ser atenuada se os educadores evitarem assustar as crianças
com frases como: quando entrares para a escola
acabaram as brincadeiras; vais
ter de trabalhar muito...
substituindo-as por incentivos ao prazer da descoberta que o estudo pode proporcionar.
As exigências de aprendizagem e do rendimento escolar, a responsabilidade de uma
nova vida, sobretudo nas crianças com ambientes culturais e sociais mais
desfavorecidos, são fontes de dificuldades capazes de provocar stress.
Um
aspeto fundamental para não frustrar o entusiasmo da criança que vai entrar
para a escola é compreender que ela é uma pessoa com projetos e não apenas um
projeto de pessoa. Realçar o valor do conhecimento e não assustá-la com o papão
do futuro. Nem dizer-lhe que tem de se esforçar para ser alguém, ignorando que
ela já é alguém desde que nasceu. É ajudá-la a estar na escola com o mesmo
prazer e entusiasmo com que brinca, conversa ou escolhe a sua mochila.
Maria José Araújo - Cronica "O GAIENSE"
Setembro 2016
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