terça-feira, 13 de setembro de 2016

Como frustrar o entusiasmo das crianças que vão para a escola


 

Na paragem do metro, em General Torres, duas crianças conversavam sobre as compras para a escola. Conheciam toda a colorida panóplia que o mercado lhes dedica, atento aos seus clientes mais novos. Exibindo o seu trolley da "Violeta", uma explicava: comprei com a minha mãe... havia muitas mas eu gostava desta; também vais comprar?
Perante o meu sorriso, a mãe explicou: não a larga desde que a comprámos, anda a passear a "Violeta" há dois dias! Só lhe falta dormir com ela. Uma mochila ou um trolley não é só para colocar livros e cadernos, é uma escolha que espelha o entusiasmo que as crianças têm quando vão para a escola. Na entrada no Ensino Básico a criança não tem garantida a aceitação a priori, tem de revelar competências para a conseguir; tem de se adaptar a alterações significativas das rotinas do dia-a-dia, sujeita a uma autonomia obrigatória para se poder desenvolver num ambiente diferente.
Esta dificuldade pode ser atenuada se os educadores evitarem assustar as crianças com frases como: quando entrares para a escola acabaram as brincadeiras; vais ter de trabalhar muito... substituindo-as por incentivos ao prazer da descoberta que o estudo pode proporcionar. As exigências de aprendizagem e do rendimento escolar, a responsabilidade de uma nova vida, sobretudo nas crianças com ambientes culturais e sociais mais desfavorecidos, são fontes de dificuldades capazes de provocar stress.
Um aspeto fundamental para não frustrar o entusiasmo da criança que vai entrar para a escola é compreender que ela é uma pessoa com projetos e não apenas um projeto de pessoa. Realçar o valor do conhecimento e não assustá-la com o papão do futuro. Nem dizer-lhe que tem de se esforçar para ser alguém, ignorando que ela já é alguém desde que nasceu. É ajudá-la a estar na escola com o mesmo prazer e entusiasmo com que brinca, conversa ou escolhe a sua mochila.
 
Maria José Araújo - Cronica "O GAIENSE"
Setembro 2016
 
 http://www.ogaiense.pt/

Sem comentários:

A autoridade não se impõe, conquista-se

Arquivo do blogue