sábado, 31 de outubro de 2009

O projecto da Escola a Tempo Inteiro não acaba por responder a uma necessidade das famílias ao democratizar as funções de guarda?

A Escola estar aberta todo o dia é uma medida socialmente útil e importante para os pais. A questão não é se a medida é boa ou má. A questão é se tem uma influência positiva nas crianças. É preciso perceber o impacto destas medidas na vida das crianças.
As AEC’s são um assunto de grande complexidade. A atenção do senso comum centra-se muito no tipo de actividades propostas pelo Ministério em parceria com as autarquias e na tema da segurança enquanto a questão de fundo fica sempre por resolver. Será que temos o direito de ocupar e condicionar o tempo livre das crianças depois de um dia de Escola? O contrário de tempo livre não é tempo ocupado, como muitas vezes se diz. Porque o tempo pode ser ocupado com liberdade (quando as crianças podem ter uma palavra decisiva na escolha da sua ocupação) e sem liberdade (quando as crianças são vítimas de uma imposição ou escolha a que são totalmente alheias). Para tempo não livre já temos as aulas, e é normal que assim seja. Depois das aulas é bom que o tempo livre seja mesmo livre. Não faz sentido prolongar de tal modo as suas ocupações e obrigações que não lhes deixamos tempo para brincar e descansar. Para serem crianças... Estas são algumas das questões sobre que conversei com os educadores.

As crianças podem e devem fazer tudo o que for importante para elas, desde que lhes seja garantida a oportunidade de escolher. Aliás, detestam estar sem fazer nada. E, para algumas delas, a única hipótese de ter essas actividades é mesmo na escola. E é justamente por isso que temos de ser muito exigentes em relação à forma como essas actividades são sugeridas e implementadas, para que elas as possam aproveitar plenamente.

Democratizar não é fechar as crianças em espaços e obrigar todas as crianças a fazer tudo da mesma maneira.


Maria José Araújo In (JUP Outubro 09)

2 comentários:

Cristina Costa disse...

Concordo plenamente com a existencia de apoio do Estado às famílias (preferia que as famílais tivessem efectivamente mais tempo para estar e educar elas próprias os seus filhos) e que este tempo de permanência das crianças fora do lar deve ter regras bem definidas e oferecer actividades e apoios diversos, mas deve estar organizado de modo a melhorar a vida e a educação das crianças e não a ocupá-las de modo igual a todas e principalmente sem hipoteses de escolha ou adaptação de ofertas conforme as expectativas e necessidades das famílias e principalmente das próprias crianças. A questão que a mim como mãe mais me preocupa é a de que as crianças não têm actualmente quase nenhum tempo livre, ou tempo que possam ocupar com o que elas querem realmente fazer ou mostram aptidão para desenvolver, ou mesmo tentando melhorar em areas que estão menos bem. O que têm é todas, do mesmo modo, a oportunidade de ter acesso a algumasactividades que alguns adultos impõem como sendo as melhores, sem alternativa ou flexibilidade, a menos que os pais tenham recursos materiais para fazer de outro modo.
Os meus filhos não frequentam mas poderiam aproveitar algo deste investimento se a sua organização e dinâmica fosse mais flexivel. Seria muito mais benéfico para as crianças, por exemplo, a criação de vários clubes a funcionar simultaneamente e em que as crianças pudessem optar pelos que fossem para elas de maior interesse, podendo em cada dia ter tempo para brincar, fazer alguns TPC, usufruir de alguns programas de apoio e complemento curricular adaptado a cada criança se necessário (NEE) e então depois participar destas actividades, mas tudo com conta peso e medida, sem manuais nem salas de aula e em grupos heterogeneos constituidos por crianças com os mesmos interesses e não obrigatóriamente da mesma turma e do mesmo ano. É só uma ideia que me parece mais bonita.

M Jose Araujo disse...

Boa tarde
Muito obrigada pelo seu comentario. Muito pertinente.
Na verdade, seria um beneficio para as crianças e para os adultos que estao com elas se a organização fosse partilhada e as crianças pudessem escolher o que fazer, como muito bem refere no final da sua mensagem.

A autoridade não se impõe, conquista-se

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