Fará sentido que, na sociedade contemporânea, as crianças trabalhem mais do que as 40 horas que achamos razoáveis para os adultos? Fará sentido prolongar de tal modo as suas ocupações que não lhes deixamos tempo para brincar e descansar? Será que temos o direito de ocupar e condicionar o tempo livre das crianças depois de um dia de Escola?
Além destas perguntas primordiais, às quais se procura responder neste livro, muitas outras se colocam, hoje, aos pais e encarregados de educação, professores e educadores.
O trabalho das crianças é de cinco horas na Escola e depois têm de descansar. Temos nós o direito de ocupar e condicionar o tempo livre das crianças depois de um dia de trabalho na Escola?
O contrário de tempo livre é tempo ocupado? Ou o tempo pode ser ocupado com liberdade e sem liberdade?
São os “trabalhos de casa” excessivos, repetitivos e inúteis? De que estamos nós a falar quando falamos de “trabalhos de casa”?
O problema dos TPC é também uma questão crucial para os pais na forma como encaram o futuro das crianças.
As crianças são pessoas que têm um presente de pleno direito, não são apenas pessoas que vão ter um futuro.
A angústia dos pais para que as crianças trabalhem muito para ser alguém, como se as crianças não fossem já hoje alguém, pode comprometer tanto o seu presente como o seu futuro.
Maria José Araujo (2009) Crianças Ocupadas. Lisboa: Prime Books
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Crianças Ocupadas
Publicada por M Jose Araujo à(s) 05:41
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2 comentários:
Nos tempos que correm existe uma realidade de extremos. De um lado, um grande número de desempregados e do outro muitas pessoas que trabalham cada vez mais e de forma muito intensa devido à introdução de inovações tecnológicas e organizacionais, à flexibilização do tempo de trabalho e até à existência de duplo emprego, já para não referir o caso de reformados que continuam a trabalhar. O desemprego de uns e intensas jornadas de trabalho de outros têm como consequência problemas relacionados com a saúde (stress, depressão, lesões por esforço repetitivo), problemas sociais relacionados com o convívio familiar (falta de tempo para a família e desestruturação da mesma) mas também problemas de aumento da criminalidade e falta de segurança das populações.
Que fazer então para combater o flagelo do desemprego e ao mesmo tempo aliviar o horário de trabalho dos empregados?
A redução da jornada de trabalho seria uma medida que, acompanhada por outras (limitação das horas extraordinárias, limitação do duplo emprego, limitação do trabalho dos reformados, limitação do trabalho aos fins-de-semana), teria o efeito de, por si, só aumentar o tempo livre dos trabalhadores, mas também gerar novos postos de trabalho.
Historicamente, qualquer proposta de redução da jornada de trabalho enfrenta sempre a oposição dos empresários que alegam a incapacidade das empresas arcarem com o aumento dos custos, bem como a diminuição da competitividade da indústria nacional.
Estes velhos argumentos, na situação de crise profunda em que nos encontramos, não têm razão de ser, uma vez que o custo dos salários em Portugal é dos mais baixos do mundo e que o peso dos salários no custo total de produção também não é significativo.
O aumento de produtividade e o aumento do desenvolvimento social e económico desta medida compensaria largamente esses pequenos constrangimentos.
Em vários países, a redução da jornada de trabalho tem sido discutida como instrumento para preservar e criar novos empregos de qualidade e também possibilitar a existência de boas condições de vida. Porém poderia ser muito mais do que isso e impulsionar a economia levando à melhoria do mercado de trabalho. A criação de novos postos de trabalho, a diminuição do desemprego, da informalidade e da precariedade conduziria ao aumento da produtividade e teria como consequência o aumento do consumo que por sua vez provocaria uma necessidade de aumento de produção completando deste modo o “círculo virtuoso”.
Em Portugal, este tema ainda está completamente ausente das discussões com vista ao combate eficaz ao desemprego. Se não é de estranhar esse silêncio por parte das organizações patronais, é no mínimo desolador a pobreza de ideias apresentadas por parte do governo, organizações sindicais, associações profissionais e associações de pais. As associações de pais pugnam mais pela “escola a tempo inteiro” do que pela melhoria das condições de trabalho dos seus associados com vista a serem “pais a tempo inteiro”. As organizações sindicais estão tão acomodadas nas suas velhas reivindicações que andam sempre “a reboque” dos descontentamentos gerais que vão surgindo. O governo anda preocupado com as eleições que se avizinham e demasiado distraído para promover discussões de medidas verdadeiramente estruturantes para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
Nos anos 60 havia uns desenhos animados, “Os Jetsons”, que eram uma família que vivia no futuro (supostamente no ano 2000) e o pai ia para o emprego no seu disco voador. Quando chegava ao emprego fazia o seu trabalho que era apenas carregar num botão e regressava a casa. A sua jornada de trabalho era apenas de 1 minuto.
Que diferença entre o que se pensava que seria a evolução da qualidade de vida das pessoas e aquilo que se tem verificado, principalmente nos últimos anos.
José Correia
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