quarta-feira, 16 de setembro de 2009

AEC - Empobrecer o Curriculo para depois o Enriquecer?

As actividades de Enriquecimento Curricular no 1º Ciclo do Ensino Básico (EB) – conhecidas por AEC são um assunto de grande complexidade. A atenção do senso comum centra-se nas actividades propostas pelo Ministério da Educação em parceria com as autarquias (se são boas ou más, se devem ser estas ou outras, etc.) e com a necessidade de ter as crianças em segurança, enquanto os pais trabalham, mas a questão de fundo fica sempre por resolver porque é de mais difícil apreensão.
A primeira pergunta que se impõe acerca da necessidade de um enriquecimento curricular, é a seguinte: Porque é que se empobreceu o currículo, se depois temos de o enriquecer?

Não se está aqui a defender um tipo de disciplinas contra outro, ou um tipo de saber que seria melhor do que outro, mas sim o que as pessoas pensam da sua própria vida e da vida das crianças que têm a seu cargo. No que respeita especificamente a estas actividades de enriquecimento, esta questão prende-se sobretudo com a nossa concepção de infância.
Apesar dos educadores pensarem nas crianças quando fazem as actividades, a verdade é que raramente estas actividades surgem de um diálogo prévio com elas. Fazem aliás parte de um conjunto de orientações que o Ministério propõe, a autarquia tenta organizar e os professores tentam seguir…
Uma questão que se coloca desde logo aqui é se as actividades devem ser pensadas com as crianças ou para as crianças.
Na perspectiva de que as actividades de enriquecimento devem ser programadas para as crianças está implícita uma concepção de infância que toma as crianças como seres não activos, sem capacidade de iniciativa e sem identidade. Esta perspectiva não olha as crianças no presente, com a sua realidade concreta, mas como um produto de aprendizagens organizadas pelos adultos em função de um desígnio institucional de socialização. Consequentemente, as actividades por vezes são adequadas, outras vezes não são, porque não vão de encontro às realidades culturais, cognitivas e às motivações das próprias crianças, entre outras razões.
Na perspectiva de que as actividades de enriquecimento devem ser pensadas com as crianças, a partir dos seus interesses e participação, estamos perante uma concepção de infância que as olha no presente, com personalidade própria, pois estamos a dar-lhes a oportunidade de exprimirem o que sentem, da maneira que desejam. Neste tipo de actividade mais lúdica e não tão direccionada, o próprio processo da escolha é já uma actividade que é válida por si. É de facto muito importante que as crianças exteriorizem a sua subjectividade, algo que vem de dentro das suas vivências, dos seus marcos de referência e não que é imposta do exterior.
De uma maneira geral, as crianças gostam de fazer coisas de brincar e para elas brincar pode também ser fazer actividades. Mas se as actividades que dependem das funções expressivas (como a mímica, o movimento, a música, o desenho, a pintura, etc.) não respeitarem a sua(s) cultura(s), por serem demasiado programadas, deixando para a criança somente um espaço de execução, o processo de exploração das potencialidades da criança perde-se, pelo menos parcialmente, porque ela já não se entrega por inteiro num acto que já não vê como sendo autenticamente brincar.
Se as diversas actividades que são propostas às crianças no seu “Tempo Livre” – que é o tempo que fica depois das aulas na escola – forem actividades lúdicas, que vão de encontro à sua vontade e interesse, onde elas podem escolher o que fazer (umas gostarão de pintar e ter música, outras de fazer outras coisas), penso que é muito positivo. No entanto, se forem demasiado orientadas, as crianças forem obrigadas a fazer e se forem mais aulas depois das aulas, penso que é muito cansativo e contraproducente. Estamos a falar de crianças muito pequenas e o cansaço elas demonstram-no das mais diversas formas, a que por vezes damos o nome de indisciplina.
É essencial que as crianças brinquem e descubram o que gostam de fazer. Brincar é a actividade por excelência nesta fase da vida das crianças. O problema pode não ser só as actividades que se fazem com excesso de orientação, mas sim ser essa metodologia a prevalecente em todas as actividades.

Maria José Araujo (2009). Crianças Ocupadas. Lisboa: Prime Books

1 comentário:

Anónimo disse...

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