quarta-feira, 28 de novembro de 2012

As Mulheres de Volta a casa


As mulheres de volta para casa?

Esther Vivas

 

As mulheres de volta para casa. Parece ser o que buscam as atuais políticas de saída da crise. Umas políticas que têm um claro rasgo ideológico econômico e social.

 

À medida que serviços básicos (como saúde e educação, benefícios sociais diversos, como a Lei de Dependência) são recortados, há todo um trabalho de cuidados, invisível, porém necessário, que acaba voltando a recair, majoritariamente, sobre as mulheres. O ataque frontal a um acabado Estado de Bem Estar e a transferência dos custos da crise aos setores populares, se sustenta sobre nossas costas.

 

Não em vão, o sistema capitalista se perpetua, em grande medida a partir do trabalho doméstico não assalariado que, sobretudo, nós mulheres, realizamos em nossas casas. Uma quantidade enorme de trabalho não remunerado do qual não se pode prescindir e do qual o capitalismo necessita para subsistir.

 

Pouco depois de chegar ao governo, o Partido Popular (PP) anunciou um recorte de 283 milhões de Euros na já muito ‘anêmica’ Lei de Dependência, arrastando-a para o desaparecimento. Uma medida que, além de deixar a umas 250 mil pessoas sem ajuda e quase impossibilitar a incorporação de novos beneficiários, aumentou a pressão sobre as mulheres. Os cuidados que já não são assumidos pela administração pública acabam recaindo no âmbito privado, em casa e, em especial, nas mães e filhas de pessoas dependentes. O bem estar familiar se mantém à custa do aumento da carga do trabalho doméstico.

 

Se observarmos as cifras das pessoas inativas, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2010, 96,4% que declararam não buscar trabalho por razões familiares (cuidar de crianças, de adultos enfermos, de pessoas com deficiências etc.) eram mulheres. Na medida em que estas tinham descendentes, sua taxa de ocupação diminuía. Sem filhas/os, o emprego feminino se situava em 77%; com eles, em 52%. Enquanto que a taxa de ocupação masculina não era alterada por esse fato e, em todo caso, aumentava com a existência de descendentes. Conclusão: a conciliação da vida pessoal e laboral acontece a custas da exclusão trabalhista, da precariedade e/ou aos ritmos de vida frenéticos e insustentáveis de muitas mulheres.

 

Outras medidas tomadas pelo governo, como o congelamento das pensões e a ampliação do período de cálculo da cotização também têm consequências muito negativas para nós. Uma maior presença na economia informal e, em geral, uma vida laboral intermitente, devido ao cuidado de terceiros dificultam poder somar uma cotização mínima.

 

As mulheres encabeçamos o ranking dos empregos mal pagos e socialmente desvalorizados. Do total de contratos a tempo parcial, 77,6% estão em nossas mãos. E a precariedade do emprego que fomenta ainda mais a última reforma trabalhista só faz dificultar nossa autonomia e conciliação pessoal e familiar.

 

Da mesma forma, é importante ressaltar que ambos os sexos não partimos em igualdade de condições no mercado de trabalho. As mulheres cobramos 22% a menos de média por ano do que nossos companheiros, segundo a última Pesquisa Anual de Estrutura Salarial publicada em 2009 pelo INE; e essa discriminação salarial cresce quando nosso nível de estudo é maior.

 

Além desses recortes em direitos sociais e trabalhistas, enfrentamos uma crescente ofensiva reacionária contra direitos sexuais e reprodutivos. O projeto de reforma da Lei do Aborto por parte do PP, que pretende restringir ainda mais as condições, prazos e supostos para abortar e que nos faz retroceder anos em ditos direitos é somente a ponta do iceberg.

 

Políticas que buscam impor um modelo de sexualidade heterossexual, vinculada à reprodução e controlar a capacidade reprodutiva das mulheres. Não querem que tenhamos direito a decidir sobre nossos corpos e sobre nossas vidas, daí a ameaça do castigo penal ao aborto.

 

Hoje, 25 de novembro, reivindicamos o dia contra a violência machista para visibilizar uma violência invisível; porém, cotidiana e persistente contra as mulheres, que só se aprofunda no atual contexto da crise. No segundo semestre de 2012, as denúncias por violência machista aumentaram 5,9% em relação aos três primeiros meses do ano. E as mulheres que sofrem ditas situações, cada vez são pior atendidas, devido à diminuição de recursos públicos.

 

A Convergência e União (CiU) convocou para hoje (25) as eleições para o Parlamento da Catalunha e a Junta Eleitoral proibiu a manifestação que iria acontecer; mas, de toda maneira esta será realizada. Porém, como assinala a Vocalía de Mujeres da Federação de Associações de Vizinhos de Barcelona: "Não é a convocatória dos coletivos feministas a que coincide com as eleições; mas, o chamado às urnas que acontece no dia 25 de novembro”. Um fato que mostra, uma vez mais, o nulo interesse político por dita questão.

 

A saída atual à crise busca devolver-nos às nossas casas para recuperar papeis femininos e de gênero retrógrados. Trata-se de uma ofensiva com toda força contra direitos econômicos, sexuais e reprodutivos. Porém, não permitiremos isso. Porque, apesar de que alguns não gostem, nós decidimos. As mulheres de volta para casa? Nem em sonhos!

 

*Original em espanhol divulgado em Público.es, 25/11/2012.

**Tradução: ADITAL.

 

sábado, 20 de outubro de 2012

Porquê ler livros? por Manuel A.Pina

Ler um livro não é mais importante que ver, por exemplo, um filme, é apenas diferente. Só que é nessa "diferença" que está tudo, ou quase tudo. Não só a liberdade de leres o livro como quiseres, de trás para diante ou de diante para trás, de voltares ao princípio ou de o fechares e recomeçares a lê-lo no dia seguinte, mas também a liberdade de te leres a ti mesmo nele, de imaginares tu (por mais pormenorizadamente que o autor os descreva) cada personagem, cada lugar, cada acontecimento. E de, nele, viajares, na companhia das palavras do escritor, por mundos reais e imaginários, dentro e fora de ti, que só a ti pertencem, indo e vindo como e quando quiseres entre esses mundos e o teu mundo de todos os dias. Porque, num livro, só aparentemente é o escritor quem conduz a história, na realidade tu é que vais ao volante, a história ou poema que lês é mais teu e dos teus sentimentos e tuas emoções que dos do escritor. De tal modo que, se voltares a ler o mesmo livro passado muito tempo, o livro já se transformou, já é outro, só porque tu também já te transformaste e já és também outro. É por isso que se diz que todos os livros são sempre muitos diferentes livros, tantos quantos as pessoas que os lerem ou tantos quantas as vezes que uma mesma pessoa os ler. E isso é uma coisa maravilhosa, descobrir que nós, com a nossa imaginação e o nosso coração, é que estamos a escrever os livros que lemos.

Manuel António Pina
Um texto especialmente dirigido aos estudantes do projecto Fenix e publicado no Jornal Fenix


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Crianças do 1.º ciclo "trabalham" tanto ou mais do que os adultos

Muitas crianças portuguesas entre os seis e os dez anos trabalham como alunas tanto ou mais do que os adultos, com oito horas diárias na escola a que muitas vezes acrescem trabalhos de casa "A vida das crianças a partir dos seis anos não pode funcionar só a partir da escola. A escola é muito importante, mas a educação informal e os momentos de lazer e o brincar são fundamentais" Vendo o tempo médio de trabalho de um adulto, entre 37,5 e 40 horas semanais, percebe-se que muitas crianças trabalham no seu ofício de alunas tanto como um trabalhador adulto. Contudo, enquanto o trabalho profissional dos adultos é seguido de descanso para a maioria das pessoas, o trabalho escolar é cada vez mais desenvolvido dentro e fora da sala de aula. Repetir em casa o que se fez na escola, prolongando o tempo de trabalho escolar, é um dos erros que se tem vulgarizado Os TPC, a existirem, devem ser feitos na escola, eventualmente no apoio ao estudo e nada mais, até porque representam muito em termos de tempo que ocupam, mas muito pouco em termos de estímulos cognitivos.

"TPC" e estudar é a mesma coisa?

Estudar tem de ter a adesão voluntária das crianças. Deve ser algo que elas percebam e por que se interessem. Perceber que conhecer, aprender e ter a possibilidade de participar no mundo de uma forma informada é algo estimulante, e as crianças gostam deste sentimento. Estudar é perceber mais e melhor... não é repetir o que os adultos impõem. O conceito de estudar é muito confuso para as crianças e elas só o vão percebendo com o decorrer da escolaridade e à medida que se vão confrontando com outras situações – como, por exemplo, estudar a tabuada, estudar para um teste – e, mesmo assim, tudo isso depende delas. A função de estudar, não sendo uma operação muito concreta, é algo que não é muito claro para as crianças nem, provavelmente, para os adultos com quem convivem. As crianças têm múltiplos interesses que são desprezados em função da “matéria escolar”. Todos sabemos disto - o que muitas vezes não sabemos é o que fazer para corrigir esta desatenção. Neste sentido, se se confundir TPC com estudar, estamos a dizer às crianças que estudar é aquele trabalho repetitivo, cansativo e mecânico que é proposto na maior parte dos TPC. É muito importante que se entenda isto, senão é o conhecimento e a própria Escola que estamos a desvalorizar.

Acabar com os TPC sim ou nao?

Hollande quer acabar com trabalhos de casa no ensino francês Uma das estratégias do Presidente francês, François Hollande, para a área da educação passa por abolir os trabalhos de casa. A medida não é inédita e está prevista na legislação de vários países – ainda que as escolas acabem por continuar a marcar actividades para os alunos fazerem fora da escola. Toda a noticia E em Portugal? Esta polemica dos "TPC" nao tem sido suficientemente discutida. Porque nao acabar com o "TPC" repetitivos?

domingo, 14 de outubro de 2012

Nao deixar a vida fora da escola

O ano lectivo que estamos agora a começar é mais um ano em que a nossa sociedade propõe às crianças – que frequentam o lº ciclo do ensino básico-, uma educação dirigida principalmente à sua razão, em detrimento da sua afectividade e de toda a riqueza das expressões que são garantia de um desenvolvimento mais completo do conjunto das faculdades humanas. Expressão é a própria vida, dado que toda a natureza humana pode ser considerada expressiva. Para Arno Stern (1), o termo qualifica muitas coisas diferentes e, de uma maneira geral, os educadores querem explicar tudo o que acontece com a criança, porque lhes custa acreditar na acção educativa libertadora que reabilita sem passar por uma interpretação, sem passar por um diagnóstico que conduza a receitas pedagógicas; mas na actividade criativa há coisas que não se explicam. As crianças têm normalmente necessidade da expressão plástica, de desenhar, para enunciarem o que não conseguem confiar à expressão verbal e, se admitirmos este facto como princípio justificativo da sua actividade criadora, a expressão “livre” nunca será colocada em causa. “Compreender a arte infantil é saber porque se exprime a criança, como se exprime e o que exprime” (Stern, s/d: 6). (...) PLATAFORMA BAROMETRO SOCIAL - FLUP Artigo completo

Crianças em risco

Reportagem na RTP 1
http://www.rtp.pt/play/p35/e95561/jornal-da-tarde/262110 Dados do SOS criança mostram que há mais pedidos de ajuda das proprias crianças. Ligam para ter alguém com quem desabafar, alguém que as possa ouvir e ajudar. Porque não prestamos mais atenção aos mais pequenos?

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pais e professores esperam demasiado das crianças ?



A "crise" está a fazer com que pais e professores aumentem a pressão que exercem sobre as crianças para serem “alguém no futuro”, sufocando-as com exigência e contribuindo para desencadear perturbações obsessivo-compulsivas....

http://www.educare.pt/educare/Atualidade.Noticia.aspx?contentid=C30C0A8CA9C70E77E0400A0AB80001BA&opsel=1&channelid=0


O que estamos nós a fazer às crianças?
- respeitamos a sua idade e possibilidades de trabalho ...os seus tempos e  ritmos?
Que exigencias fazemos nós às crianças?

Que podem os nossos filhos esperar de nós?

quinta-feira, 14 de junho de 2012

De que falamos quando falamos de brincar?


O brincar é a possibilidade que a criança tem de criar mundos imaginários, nunca deixando de os compreender como tal. Brincar é um mecanismo que lhe garante, tanto como aos adultos, uma certa distância em relação ao real. Brincar é para a criança uma actividade dotada de significado social que, ao contrário de outras, precisa de se exercer, praticar e explorar. As crianças procuram activamente informação, e brincar é talvez a melhor maneira de o fazer.


Todo o texto no Jornal Fénix digital nº5
http://www.porto.ucp.pt/twt/ProjectoFenix/MyFiles/MyAutoSiteFiles/JornalDigital4496403/fmartins/jornal_fenix_N5.pdf






Nos enfants ont-ils droit à l'art et à la culture?

A educação artística, embora absolutamente essencial, é muitas vezes considerada um luxo. A descoberta da correspondência entre um gesto e uma intenção, a beleza de um movimento, de um olhar, de uma cor, de um som, de uma sensação táctil, entre outras formas de percepção das emoções e dos sentimentos que as acompanham, é essencial para o desenvolvimento da inteligência na sua globalidade. O trabalho artístico e a prática cultural canalizam energias que permitem a descoberta dos limites e ajudam na procura de aquisição de disciplina pessoal. Cada experiência vencida modifica totalmente a aquisição de todas as outras experiências e contribui para a riqueza de cada criança, uma vez que é a experiência que está na origem do pensamento e não o contrário. A experiência de criação partilha múltiplas riquezas, é uma experiência fundadora para qualquer criança, para qualquer cidadão. A tomada de consciência pelos mais jovens da diversidade e riqueza de atitudes culturais contribui de maneira decisiva para o reconhecimento das diferenças culturais e sociais e ainda para o respeito pela expressão das "minorias". As artes contribuem para a discussão sobre a vida e podem ajudar a criar uma escola de tolerância, de respeito e bem-estar, na medida em que as regras das artes são as regras da vida.

CARASSO, Jean-Gabriel (2005). Nos enfants ont-ils droit à l’art et à la culture?. Toulouse:Éditions de l’attribut.

Maria José Araújo


A autoridade não se impõe, conquista-se

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